Quando o ronco é mais do que um incômodo para o parceiro
O que é, o que é? Ele costuma vir à noite, sem que você perceba. Na verdade, você não escuta e parece nem se incomodar, mas a pessoa que dorme ao seu lado reclama. Toda noite. Sim, estamos falando do ronco, que, com frequência e em grandes vibrações, é um dos principais distúrbios do sono, que afetam 76% dos brasileiros, segundo uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizada em 2017.
Ele é também a terceira causa de divórcio nos Estados Unidos, como mostrou uma pesquisa realizada pelo Centro Médico Rush, nos Estados Unidos. Perde apenas para problemas financeiros e infidelidade.
Foi a possibilidade de uma separação que levou um casal a se tratar com a doutora e cirurgiã buco-maxilo-facial Martha Salim, professora da Universidade Federal do Espírito Santo e especialista em odontologia do sono. Era insuportável para o marido, que não conseguia dormir com o ronco da mulher. Um ano depois de se tratar, ela passou a se incomodar com o ronco dele (problema que passava despercebido quando ela roncava) e pediu que ele se tratasse também. O casal continua junto, sem roncar.
Segundo Martha explica, o ronco "é o barulho causado pelo impedimento da passagem do ar pela via aérea e não deve existir em uma respiração normal". De acordo com ela, um dos principais problemas ligados a ele é a apneia do sono, quando o relaxamento da musculatura cervical faz com que essa via aérea fique completamente fechada por alguns segundos, impedindo a pessoa de respirar.
Entretanto, a professora afirma, roncar não significa sempre um problema. Quando a pessoa está resfriada, por exemplo, sua via aérea pode ficar um pouco obstruída devido a sintomas ligados ao vírus, o que melhora quando a doença vai embora. Outro caso em que as pessoas podem roncar e não ser considerado uma doença é quando ingerem álcool antes de deitar. "O álcool é um potente indutor do sono e um relaxante muscular. Mesmo quem não tem o hábito de roncar vai fazê-lo pois há um relaxamento muscular e o ar não entra, provocando o barulho", diz Martha.
Há uma classificação para a quantidade de obstruções respiratórias durante o sono. O quadro é leve quando ocorrem de 5 a 15 paradas por hora de sono; moderado quando é entre 15 e 30 e grave quando são mais de 30 por hora.
MUITO CANSAÇO
A situação severa era o caso da estudante Jessica de Oliveira Pereira, 24 anos. Desde a adolescência, ela reclamava de sempre acordar se sentindo cansada. "Parecia que um trator tinha passado por cima de mim quando eu levantava", lembra a jovem. Não era para menos: ela deixava de respirar cerca de 30 vezes por hora de sono. Assim, não entrava no sono REM (da sigla em inglês rapid eye movement), fase em que há um fortalecimento das conexões neurais. No caso de Jessica, o ronco não chegou a ser um problema, mas é durante o sono REM que também ocorre a consolidação da memória e do aprendizado e, por não atingi-lo, Jessica tinha dificuldade em provas e vestibulares.
Ela descobriu o quão ruim eram suas noites de sono após fazer a polissonografia, importante exame para detectar distúrbios ligados ao sono, como o ronco e a apneia. Ele é realizado de forma não invasiva e monitora a atividade cerebral, muscular e respiratória, entre outros pontos, durante o sono. Com o diagnóstico aos 16 anos, Jessica passou, então, a usar um aparelho para dormir. Era uma espécie de máscara que envia um fluxo de ar contínuo e, assim, ela não "se esquecia" de respirar. Foi só após procurar a doutora Martha Salim e passar por uma cirurgia ortognática associada a tratamento ortodôntico, que restabeleceu seu desenvolvimento ósseo facial e alargou suas vias aéreas, que Jessica começou a dormir melhor. "Não preciso mais de remédio nem de aparelho para respirar. Agora durmo normalmente, como sempre queria ter dormido", comemora a estudante.
A cirurgia costuma ser recomendada para casos específicos, e o tratamento é sempre multidisciplinar, como salienta a especialista Martha. "O paciente deve ser analisado como um todo. Não adianta recomendar o aparelho se o paciente não emagrecer e, para isso, ele deve procurar um endocrinologista", diz a cirurgiã.
A obesidade é uma das principais causadoras do ronco e outros distúrbios do sono. De acordo com Martha, a pessoa obesa acumula gordura também na circunferência cervical, ou seja, no pescoço, e na língua e, assim, tem mais problemas na via aérea e, consequentemente, mais tendência para roncar.
Além do emagrecimento, exercícios físicos também são recomendados para quem ronca com frequência. A fonoterapia é outro tratamento indicado, pois melhora a tonicidade da musculatura da via aérea. Dormir de lado também pode reduzir o ronco. "De barriga para cima, em decúbito dorsal, a língua relaxa e obstrui a via aérea com mais facilidade, fazendo com que você durma pior", explica Martha. Mas, ela alerta que em casos muito graves a posição não faz diferença: "Tem gente que ronca até sentada".
HIGIENE DO SONO
Outro ponto importante é a prática conhecida como higiene do sono, que também ajuda a ter uma noite tranquila. Ter horário para dormir, reduzir a luminosidade do ambiente, evitar comer antes de ir para cama e deitar em um colchão e travesseiro confortáveis são algumas das dicas para um sono revigorante. Para essa última recomendação, você conta com os produtos Zissou, resultados de testes e pesquisas para que você tenha a melhor noite de sono. Conheça mais no nosso site.