Dormiu bem?

Administradores mudam o rumo de suas vidas profissionais e afirmam que hoje sabem o prazer de trabalhar com um propósito forte

 

Mais qualidade de vida. Era isso que faltava para Ilan Vasserman, administrador paulistano que trabalhava de madrugada no mercado financeiro. E não só para ele. O amigo e também administrador, Amit Eisler, e o engenheiro Andreas Burmeister atuavam numa multinacional chinesa e tinham que lidar diariamente com a correria do fuso-horário. Ambas as rotinas resultavam em noites mal dormidas e no comprometimento do desempenho.

 

“Nos sentíamos cansados e isso foi o primeiro mote para mudarmos de área e investirmos em algo que passamos a dar valor: o sono”, afirma Vasserman. A ideia de empreender ganhou forma quando Ilan se deparou, em 2015, com um produto inusitado nos Estados Unidos: um colchão que cabia dentro de uma caixa compacta e podia perfeitamente ser transportada dentro de um elevador.


A inovação chamou a atenção do jovem administrador que começou, junto com Eisler e Burmeister, a se preparar para fazer a mudança de mercado e empreender. A decisão culminou, em junho de 2017, na criação da Zissou, uma startup do sono que já faturou mais de R$ 1 milhão com a venda de colchões em menos de um ano de operação. Entre os diferenciais da Zissou está a adoção de um modelo de venda direta ao consumidor, o que permite a oferta de um produto “super premium” com preço inferior aos colchões da mesma categoria. Também faz parte do sucesso uma estratégia de marketing, para garantir a boa experiência dos cem primeiros consumidores. Alguns deles receberam em casa a visita de um dos três proprietários para fazer pessoalmente o unboxing, ou seja, a abertura do colchão, o que gerou um marketing boca a boca positivo.

“Nós enxergamos que toda a parte de desenvolvimento de produto, de marca, junto com a experiência que entregamos aos primeiros clientes, está gerando um crescimento mês a mês de 20%, uma receita que segue muito bem-sucedida. Além disso, usamos o meio digital para o relacionamento”, afirma Vasserman.

Um dos destaques do produto é a composição. Com base em estudos sobre perfis de consumidor, a Zissou adaptou uma tecnologia americana às necessidades e preferências do consumidor brasileiro, como um colchão mais firme. As peças são compostas de látex hipoalergênico, poliuretano e viscoelástico e estão disponíveis nos tamanhos solteiro ou casal. Independentemente do modelo escolhido, os produtos são entregues dentro de uma caixa de 1,15 metro de altura por 40 centímetros de largura. Apesar de estarem comprimidos dentro da embalagem, a qualidade e o conforto para a noite de sono não são comprometidos.

Segundo os empresários, o principal obstáculo foi entender o novo cenário e os novos públicos. Para começar o processo desafiador de transição, o trabalho de pesquisa foi essencial. O trio estudou a relação do brasileiro com o sono durante um ano, antes de abrir o negócio. Um dos conceitos de Administração usados foi o de Golden Circle (Círculo Dourado), criado por Simon Sinek. Nele, o escritor defende que existe um padrão de pensamento, ação e comunicação nos grandes líderes e organizações inovadoras. Basicamente, Sinek diz que, para se começar um negócio, é necessário pensar no seu porquê. “O que nos une é um propósito. A marca que construímos é o maior ativo da Zissou e, para isso, nós precisamos ter um porquê muito forte. No nosso caso, foi a redefinição da relação com o sono”, explica Vasserman.

O fato de dois dos sócios serem administradores de formação contribuiu com o sucesso da empresa, além, claro, da experiência de cada um deles. “A bagagem que trouxemos das nossas expertises foi fundamental: eu, de estruturação de empresa; e o Amit e o Andreas, de criação de marca e de um modelo de negócio direto ao consumidor final”, conta.

A Zissou hoje conta com uma equipe composta por oito funcionários, focados em marketing e desenvolvimento de produto. As vendas são realizadas pelo site, com entrega em todo o Brasil, ou na Casa Zissou, uma loja-conceito, localizada em São Paulo, onde o cliente pode testar o colchão em um quarto privado com direito a iluminação e trilha sonora personalizadas.

No processo de venda, a empresa oferece, ainda, 100 dias de garantia. “Nós queremos que cada pessoa experimente seu Zissou no seu tempo, do jeito que quiser. Damos 100 dias e caso não se adapte ao colchão, o retiramos na casa do consumidor e devolvemos 100% do dinheiro. É uma prova de que acreditamos no produto”, garante o administrador.

A empresa também vem conquistando o setor corporativo, que hoje responde por cerca de 20% das vendas. A experiência com parceiros-chave é chancelada por nomes de requinte como o Hotel Fasano e a loja de móveis Ornare.

É uma inovação no mercado do sono, que promete não parar por aí. O próximo lançamento será um travesseiro com a mesma concepção do colchão: “um único conceito para agradar
todos os públicos”.

 

Matéria originalmente publicada na RBA (Revista Brasileira de Administração)

Escrita por Elisa Ventura